terça-feira, 9 de outubro de 2012

- Escureceu...

- Estamos aqui.
- Pois é...
- Faremos o quê?
- Sobe aí na minha jega.
- Ih... não tô entendendo...
- Pára de bobagem e sobe aí, sem treta.
-  Nossa, que vista linda.
- Pois é, nem quando estava em casa eu via a rua assim.
- Talvez seja isso.
- Isso o quê?
- Lá fora, hoje é mais bonito.
- É. Já pensei nisso.
- Tu viu alí?
- O que?
- A sinaleira.
- Ah, vi sim. Sempre vejo, conto os segundos que ela fica verde, vermelha...
- Tô louco pra dirigir.
- Ué, mas tu não roubava carro? Dirigia todo dia, pagava de bacana... hehehe
- Roubava né, mas era 'trabalho', nunca andei tranquilo, no meu carro.
- O que tu sentia quando entrava nos carros?
- Nada. Só sabia que estava antecipando a minha morte.
- Cara, tu tá prometido lá fora?
- Não.
- Então meu, tu vai voltar pra rua, pra família.
- Não sei meu... Morri aqui. Minha cara, nem vejo num pedaço de espelho. Meu cabelo sem corte algum, o pouco de dignidade que me restou, tiraram de mim, quando minha mãe de 67 anos passou pela íntima.
- É foda cara, mas não te entrega.
- Hoje, morro por dentro, por não ter pensado antes.
- Meu, se te consola, ninguém aqui pensou na consequência do bagulho.
- É, mas o que tem aqui dentro, e bate, é o que bombeia o sangue nas minhas veias e faz latejar minha cabeça, cheia de pensamento. Inconsequente, bandido, ladrãozinho, caso perdido. Pra sempre deliquente.



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